sexta-feira, 31 de julho de 2020

#337 - POÉTICA 2 MIL (Rodrigo Tomé)

Não quero falar de coisas amenas
     cantar a vida com voz humilde e abafada
     que mesmo quando grita de dor
     grita de forma suave quase calada
não quero fazer par com meus contemporâneos
     coaxar de sapos à luz neo-neo-neo-parnasiana
     coisas amenas cantilenas
     são sempre as mesmas
     contemplam as palavras e os poetas como se fossem deuses
     como se fossem a nossa própria realidade
humildade que me dá asco e cansaço
                    quero empurrar a porta aos trambolhões
                    romper a madrugada molhada
                    o hímen do porvir é sempre mais doce
vanguarda vanguarda vanguarda sou seu porta-estandarte
          não sinto medo de ser mais do que poderei ser
            meu desejo me precede
coisas amenas flores no estrume seco
  coisas amenas coisas pequenas
  que de tão pequenas se diluem em mim
o retorno da bossa-nova em rosto jovens
e envelhecidos pela inércia
  endeusaram chico
      endeusaram caetano
          endeusaram jobim
               pau
          pedra
     fim do caminho
          resto de toco
              um cu
                       sozinho



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