Não quero falar de coisas amenas
cantar a vida com voz humilde e abafada
que mesmo quando grita de dor
grita de forma suave quase calada
não quero fazer par com meus contemporâneos
coaxar de sapos à luz neo-neo-neo-parnasiana
coisas amenas cantilenas
são sempre as mesmas
contemplam as palavras e os poetas como se fossem deuses
como se fossem a nossa própria realidade
humildade que me dá asco e cansaço
quero empurrar a porta aos trambolhões
romper a madrugada molhada
o hímen do porvir é sempre mais doce
vanguarda vanguarda vanguarda sou seu porta-estandarte
não sinto medo de ser mais do que poderei ser
meu desejo me precede
coisas amenas flores no estrume seco
coisas amenas coisas pequenas
que de tão pequenas se diluem em mim
o retorno da bossa-nova em rosto jovens
e envelhecidos pela inércia
endeusaram chico
endeusaram caetano
endeusaram jobim
pau
pedra
fim do caminho
resto de toco
um cu
sozinho
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