assentado na orla dum soneto
ribeiro onde desliza minha mágoa
-- lá ando eu fugindo do concreto
num riacho discorre tão-só água.
fiz mal em começar com rima em eto
mais fácil a segunda, pois afago-a
afago-te no último terceto
em que no verso-chave não há régua.
entro neste terceto repousado
tenho já o soneto adiantado
apesar de uma rima pardacenta.
e agora ao chegar à fechadura
arranco estes botões de velha agrura
e grito -- é doce amar-te na berma dos cinquenta.
quinta-feira, 30 de abril de 2020
terça-feira, 28 de abril de 2020
#295- PARADA DOS ÂNGULOS AGUDOS (Duarte de Viveiros)
A Luiz de Montemor
Quando, altas horas, eu regresso ao leito
Cheio de tédio, insuportável, farto,
A estranha geometria do meu quarto
Põe ângulos agudos no meu peito...
Quero dormir -- não posso! Que profundo
Horror a minha vida miseranda!
E, aflito, do meu púlpito -- a varanda,
Prego a ilusão fantástica do Mundo!
E o luar, o luar magnífico e sereno,
Só ele compreende a minha dor
Porque me beija o rosto nazareno;
E que prazer -- meu Deus! -- eu sinto então,
Depois de ter pregado a Paz e o Amor,
Dormir, sonhar, por ti, meu coração!
quinta-feira, 23 de abril de 2020
#294 - O RITMO DO PRESSÁGIO (Sebastião Alba)
A tinta das canetas
reflui de antipatia
e impregnadas, assíduas
cambam as borrachas
Não há fita de máquina
que o uso não esmague
o vaivém não ameace
de dessorar os textos
Mas a grafia nada diz
de pausas na cabeça
Vozes inarticuladas
adensam, durante elas
uma tempestade
recôndita
E nubladas carregam-se
as suspensões
encadeando em nós
o ritmo do presságio.
Subscrever:
Mensagens (Atom)