Da flor o vulto
Da pedra o sumo
Do sonho o húmus
Do sono o fumo
Da mão o nervo
Do gesto o peso
Do olhar o medo
Do sol o prumo
Do riso o gume
Da força o selo
Da morte o gelo
Da paz o resto
21/10/980
Da flor o vulto
Da pedra o sumo
Do sonho o húmus
Do sono o fumo
Da mão o nervo
Do gesto o peso
Do olhar o medo
Do sol o prumo
Do riso o gume
Da força o selo
Da morte o gelo
Da paz o resto
21/10/980
Um caminho roto
Sinuoso
Com margens de cubatas.
Pelo seu chão caminhavam
Seus caminhantes
Cansados
Mansamente
Escondendo-se no crepúsculo de uma esquina.
Escondiam-se do mundo
E de si próprios.
Luanda -- dezembro -- 956
Engano: não, não me matei,
sugueiSe as quiséssemos ver
-- as coisas --
Como elas são
Acabariam as angústias.
O mar, por exemplo
-- Água num copo --
Ou uma árvore
-- Sem bosque --
E poderíamos passar toda a vida
Sem lhes procurar a razão
Ou um espírito
Que em nada lhes falta.
Faríamos de nós mar
Água
Árvore
Bosque
E varreríamos as nossas expectativas
A presunção do entendimento
-- O desespero também --
E então sim
Poderíamos ouvir-nos em silêncio
Sem a angústia
De não termos sido os eleitos
E, não esqueças os teus monstros...
Chamo-te no silêncio velocíssimo que me grassa o espírito, nestas asas adornadas de húmida expectativa, no voo raso das aves
que amparámos com as mãos, marinhas aves, tolhidos de ternura,
chamo-te insofismável
no frémito iridescente que percorre no meu corpo, seco e perturbante -- frémito primeiro, histórica enunciação, precisa.