domingo, 23 de agosto de 2020

#342 - PRAÇA DA REPÚBLICA DOS MEUS SONHOS (Roberto Piva)

A estátua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem
     de morfina
a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo e crianças brincando
     na Tarde de esterco
Praça da República dos meus Sonhos
     onde tudo se fez febre e pombas crucificadas
     onde beatificados vêm agitar as massas
     onde García Lorca espera seu dentista
     onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces
os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão
lábios coagulam sem estardalhaço
os mictórios tomam um lugar na luz
e os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos

Delirum Tremens diante do Paraíso bundas glabras sexos de papel
     anjos deitados nos canteiros cobertos de cal água fumegante nas
     privadas cérebros sulcados de acenos
os veterinários passam lentos lendo Dom Casmurro
há jovens pederastas embebidos em lilás
e putas com a noite passeando em torno de suas unhas
há uma gota de chuva na cabeleira abandonada
enquanto o sangue faz naufragar as corolas
Oh minhas visões lembranças de Rimbaud praça da República dos meus
     Sonhos última sabedoria debruçada numa porta santa


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