quarta-feira, 27 de maio de 2020

#316 - O SAPO (Afonso Lopes Vieira)

Não há jardineiro assim,
não há hortelão melhor
para uma horta ou jardim,
para os tratar com amor.


É o guarda das flores belas,
da horta mais do pomar;
e enquanto brilham estrelas,
lá anda ele a rondar…


Que faz ele? Anda a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o pomar
e fazem triste as flores.


Por isso, ficam zangadas
as flores, se se faz mal
a quem as traz tão guardadas
com seu cuidado leal.


E ele guarda as flores belas,
a horta mais o pomar;
brilham no céu as estrelas,
e ele ronda, a trabalhar…


E ao pobre sapo, que é cheio
de amor pela terra amiga,
dizem-lhe muitos que é feio
e há quem o mate e persiga!


Mas as flores ficam zangadas,
choram, e dizem por fim:
-- «Então ele traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe assim?»


E vendo, à noite, passar
o sapo cheio de medo,
as flores, para o consolar,
chamam-lhe lindo, em segredo…












(Raul Lino)

Sem comentários:

Enviar um comentário