E então a noite caiu, para que não se falasse do cair da noite. A noite caiu tão fria como as últimas noites que caíram, neste princípio de Inverno, e ninguém pôs um colchão por baixo dela para que a noite não se magoasse, ao cair. A noite limitou-se a cair, e com ela caiu o céu sem lua, com todas as estrelas do universo a caírem com ela. Só os olhos não caíram, porque para verem o céu e as estrelas que o enchiam tiveram de se levantar. E foi preciso falar do cair da noite para que os olhos tomassem a direcção do céu, e descobrissem tudo o que havia no céu sem lua. «Deixem cair a noite», disse alguém. E logo alguém pediu que o dia se levantasse, como se uma coisa estivesse ligada a outra. Então, o dia levantou-se da noite que caiu; e a noite caiu sobre o dia que se levantava, para que a sua queda fosse amparada pelo colchão do dia, e as estrelas tivessem onde pousar, à medida que caíam.
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